segunda-feira, 29 de março de 2010

C&C torna-se mais casa e menos construção (VALOR ECONÔMICO)

C&C torna-se mais casa e menos construção  (VALOR ECONÔMICO)

Varejo: Depois de perder liderança, rede investe em decoração para agradar mulheres, que já são 55% da clientelaC&C torna-se mais casa e menos construção
O mercado brasileiro de materiais de construção passou por uma reviravolta durante a crise, que vem repercutindo ainda hoje entre os principais players. A filial brasileira da francesa Leroy Merlin ultrapassou a líder do setor, a C&C Casa e Construção, que pertence ao grupo Alfa, do banqueiro Aloísio Faria. Segundo o ranking elaborado pela revista da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), com base em informações de fornecedores do setor, a C&C caiu para a terceira posição em 2009, atrás mesmo da também francesa Saint-Gobain (considerando não só a sua principal rede, a Telhanorte, como também as bandeiras Telhanorte Pro e Center Líder).

Maior rede do país desde a sua criação, em 2000 (com a incorporação da Conibra e da Madeirense), a C&C não está disposta a ver sua fatia ruir em um mercado que movimentou R$ 45 bilhões no ano passado, com alta de 4,2%, e que promete avançar ainda mais em 2010. Para dar novo ânimo aos negócios, a rede do grupo Alfa decidiu redobrar sua atenção ao público feminino, que já soma 55% da clientela, e remodelar seus pontos de venda, tornando-os ambientalmente sustentáveis. Hoje, mais do que metais, cerâmicas, tintas e parafusos, é possível encontrar na C&C fogões, geladeiras, micro-ondas, cafeteiras, liquidificadores, além dos mais variados artigos de móveis e decoração - de cama de casal a sinos de vento.

"As utilidades domésticas e os artigos de decoração oferecem margem maior, em torno de 30%, contra 15%, em média, da margem obtida com materiais de construção", explica o presidente da C&C, Jorge Gonçalves Filho que, além de dar início à venda de linha branca, acaba de criar a "diretoria do cliente feminino", só para entender melhor as consumidoras e atender as suas preferências. "As mulheres já são mais da metade do público e, somando as que vão com o marido, a representatividade delas sobe para 80%", diz Gonçalves Filho.

Daí o motivo para a C&C se tornar mais casa e menos construção, o que é uma tendência no varejo do setor, segundo o consultor Eugênio Foganholo. "As grandes redes trabalham cada vez menos com itens básicos, como cimento e cal, que geram pouca rentabilidade e acabam sendo comprados nos depósitos de bairro", diz ele.

De uma fatia inexpressiva até pouco tempo atrás, as utilidades domésticas e os itens de decoração representam hoje 20% do faturamento da C&C, não revelado. A mudança de estratégia levou à adoção de um novo layout para as lojas, que passam a ser organizadas pelas áreas da residência - cozinha, banheiro, sala, quarto, varanda/jardim -, seguindo o conceito "Sinta-se em casa", com a ambientação dos espaços. Trata-se, por sinal, de uma ideia semelhante à já adotada pela concorrente Leroy Merlin e pela megaloja de decoração Etna.

"Queremos que a consumidora encontre tudo o que precisa em um mesmo lugar", diz Gonçalves Filho. O novo layout é implantado nas lojas que estão sendo remodeladas dentro do critério de sustentabilidade ambiental, testado em 2009 com um novo ponto de venda na zona norte da capital paulista. O projeto piloto, que consumiu R$ 20 milhões, envolve a reutilização da água da chuva para limpeza e rega das plantas, a geração de parte da energia elétrica por energia eólica e solar, a instalação de uma estação de reciclagem com descarte de pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes. Além, é claro, da inclusão de um mil itens ambientalmente sustentáveis, de metais sanitários a móveis com madeira de reflorestamento.

Todas as novas lojas da C&C serão construídas sob essas premissas, que exigem investimentos 12% maiores, segundo Gonçalves Filho. Mas isso também agrada o público feminino, diz. "As mulheres se preocupam mais em cuidar do planeta", afirma. Este ano, cinco lojas da rede serão adaptadas ao conceito de sustentabilidade, com investimentos de R$ 25 milhões.

Mas apenas uma loja está confirmada para 2010 - a de Macaé (RJ), que deve ser inaugurada em abril, com aporte de R$ 15 milhões. "Ainda estamos analisando oportunidades de novos pontos", diz Gonçalves Filho. O lento ritmo de expansão da rede foi um dos fatores que a levou a perder a liderança, segundo fontes do setor.

Em 2009, enquanto a C&C inaugurou só uma loja e fechou duas, a Leroy Merlin avançou com três pontos de venda. Este ano, vai abrir outras três lojas, enquanto a C&C confirmou uma. A rede do grupo Alfa, porém, ainda é a maior em número de lojas (40 pontos, contra 19 da Leroy). Mas este não deve ser um diferencial por muito tempo: as três bandeiras da Saint-Gobain já atingiram 40 lojas. A distribuição da concorrência também é melhor: a Leroy está em seis Estados e no Distrito Federal, enquanto a C&C se mantém em Rio e São Paulo e Rio. Em compensação, a C&C é a única das grandes redes a vender pela internet.

Para Cláudio Conz, presidente Anamaco, alguns varejistas ficaram assustados com os efeitos da crise em 2009, quando o faturamento do setor despencou 15% no primeiro trimestre. "Mas a confiança do consumidor fez as vendas se recuperaram e ainda há mais espaço para crescer este ano", diz ele, lembrando que a redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) sobre itens do setor vai até o fim de junho.

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